segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Roteiro final


As improvisações originadas da provocação "E se pintasse um coelho verde" dialogavam com algumas questões que podiam enriquecer a idéia inicial.

Esse coelho que vai se "materializando" trouxe um desconforto sobre qual valia a pena refletir. De início ele é visto como alucinação, logo como representação e finalmente, é tão concreto que vira comida. Mais antropofágico do que isso, nem com Oswald ou com Mário de Andrade.

Questões imediatas como a natureza dos personagens, dialogavam com Donna Haraway em seu Cyborg Manifesto.

Quando pensamos nas modificações que aparelhos dentários, óculos, lentes, próteses propiciam, e na exclusão que a ausência deles e de outros apetrechos afins revela, é possível perceber a profundidade da intervenção tecnológica sobre o ser humano, tão naturalizada muitas vezes (que o diga Herbert Vianna, quando canta "eu não nasci de óculos, eu não era assim...").

Por isso, todos os personagens tem alguma modificação, seja o silicone, a tatuagem, ou algo corretivo, exceto um, que permanece apenas observando tudo.

Enquanto alucinação, remetia aos anos 70, mas não seria desejável estimular o uso de nenhum alucinógeno. Daí a homenagem a Peter Sellers, em seu "I Love You Alice B. Toklas".

Também seria fundamental aproveitar a coelha exposta no relógio de rua, o que foi feito no Largo do Machado, no Rio de Janeiro. Esta cena se originou de situação semelhante ocorrida em engarrafamento, segundo o Cavi, que participou desde o início.

Outros possíveis coelhos surgiram como citação, ou homenagem, como a coelhinha da revista Playboy e o coelho de Lewis Carroll.

Não se pretende que todos peguem todas as citações, mas elas fazem parte do contexto cultural em que está imerso esse coelho em cores.

A estrutura das cenas foi respeitada e mantida. No roteiro final praticamente foram recriados alguns dos diálogos a partir dessas inquietudes já expostas, e aprofundados os rabiscos de personagem.

O curta não pretende oferecer uma solução para nenhum impasse, nem ser moralizante. Apenas fotografa questões bioéticas que se apresentam cada vez mais à sociedade, e que muitas vezes envolvem as relações entre ciência e arte.

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Créditos do Coelho em Cores GFP